REVISTA - NÚMERO 12- ANO 12 - 2010

editorial

Terapia Ocupacional no ensino fundamental

Nem sei dizer se os alunos do curso fundamental continuam tendo ou não aulas de trabalho manual, uma vez que não me lembro de ter ouvido de ninguém, nos últimos tempos, comentários sobre o que teria aprendido a fazer nessas supostas aulas. Se elas existem ainda, não são levadas a sério, no mínimo porque não são passíveis de nota, e, portanto, não reprovam.

Lá pelos 30 anos atrás – quando ainda se faziam coisas à mão, não só com os dedos, como hoje em dia, que passaram a servir apenas para apertar botão – fazia uma grande diferença ter ou não habilidade manual. Aquele que tinha naturalmente esse dom não tinha dificuldades em vários setores da educação formal. Provavelmente era bom de caligrafia, de desenho, tinha nota boa “de ordem” e também nos trabalhos manuais. Esse era um tempo em que as pessoas tinham mãos, eram seres que desenvolviam habilidades específicas a serem feitas com a palma e os dedos das mãos – cada gesto com uma finalidade. Hoje a mão ficou para trás, serve para jogar bola, para dirigir automóvel, ou será que ela serve para muito mais coisas?

É uma pena que tenha ocorrido assim porque produzir coisas pode ser importante para o orgulho pessoal. Pode fazer parte da constituição de uma saudável autoestima. Gostar de um objeto feito com as próprias mãos, guardado pela mãe como lembrança, realimenta a nossa confiança em nós mesmos.

Quando se priva a criança da oportunidade de fazer coisas, tiramos dela uma possibilidade: olhar o que fez, ver que os outros gostam, mostram e também guardam dá uma sensação de gostoso na barriga. As crianças de hoje, a não ser que tenham mães muito jeitosas e caprichosas, não têm com quem se identificar para praticar a criação e feitura de pequenos objetos mercadologicamente insignificantes, porém afetivamente importantes como marcos de crescimento e transformação.

 Existe um curso, uma profissão, que pode (creio eu) e espero que pretenda atuar nesse campo educacional: os terapeutas ocupacionais. Tendo em vista que todos nós, cada vez mais, recebemos tudo pronto e somos cada vez menos incentivados a nos tornarmos autores/criadores dos objetos de nosso uso pessoal, estamos, na minha opinião, bastante precisados de profissionais que nos despertem este interesse. Eles deveriam ser prestigiados, pois é pelo seu conhecimento e pela aplicação de suas técnicas e idéias que podemos criar as ligações neurais entre olho e mão. Esta ligação (olho/mão) é essencial para que sejamos “Homo Sapiens”. Esse só se torna passando pelo “Homo Faber”.

Em tempos passados, imitando pais que faziam, a criança não precisava da sabedoria do Terapeuta Ocupacional criando exercícios para desenvolver as sinapses entre olho e mão. Aprendia-se a fazer fazendo. As habilidades eram desenvolvidas no fazer, olhado o que os outros faziam.

O Terapeuta Ocupacional aprende nos seus bancos escolares a desenvolver essa relação tão importante para a nossa sobrevivência. Eu lamento que o encarregado da manter o homem humanizado seja o profissional que ostenta o título de “terapeuta” e não de “educador”. Terapia significa curar; educar é interessar, incentivar, motivar, deixar improvisar. Sem querer abalar o caráter terapêutico importante e tão necessário da atividade dos T.O.s na recuperação das sinapses, gostaria que esse saber também fosse utilizado na educação para o desenvolvimento de novas sinapses. Possivelmente as mesmas técnicas ou uma parte delas podem ser usadas tanto para recuperar sinapses perdidas (terapia) quanto para desenvolver novas e mais fortes sinapses (educação). Esses conhecimentos precisam ser transmitidos para os professores. As escolas precisam de terapeutas ocupacionais orientando os mestres.

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